quarta-feira, 5 de maio de 2010

Entrevista a Patrícia Vintém, 2010



Entrevista a Patrícia Vintém, aluna da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo (2000/2006)
 para a Escola Profissional de Música de Viana do Castelo
 por Margarida Faria e Paula Miranda, em 2010


Patrícia Vintém nasceu em Portugal e iniciou os seus estudos musicais quando tinha sete anos. Em 1996 começou a prática de violino na Academia de Música de Viana do Castelo, e um ano mais tarde a prática de cravo.
Em 2003 conclui o Curso Básico de Instrumento em violino com o Professor Miguel del Castillo e em 2006 o Curso de Instrumento em cravo com o Professor Álvaro Cabrera Barriola na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo.
Patrícia licenciou-se em Música Antiga, cravo, na Escola Superior de Música de Lisboa em 2009, onde estudou com Cremilde Rosado Fernandes e Ana Mafalda Castro.
Atualmente encontra-se a estudar cravo no Conservatório Real de Haia sob orientação de Jacques Ogg.
No concurso “Carlos Seixas 2004” que teve lugar em Lisboa ganhou o 2º prémio e também fez parte da maratona de Scarlatti realizada por toda a Europa. Apresentou-se em concerto em diferentes salas de concerto pelo País como Casa da Música (Porto), Museu da Música, Teatro São Carlos, Academia de Santa Cecilia, Museu do Azulejo (Lisboa), Teatro Nacional de Almada, entre outras.
Tem participado e assistido a cursos e masterclasses de Música Antiga – cravo e música e câmara – em Portugal e no estrangeiro – Paris, Viena, Daroca (Zaragoza) – com David Moroney, Petra Zenker, Giorgio Cerasoli, Ilton Wjuniski, Rinaldo Alessandrini, Richard Gwilt, Paul Dombrecht, Gustav Leonhardt, Laura Pontecorvo, Andrea Coen, Álvaro Lopes Ferreira, Olivier Baumont, Ketil Haugsand, Ana Mafalda Castro.
Foi cofundadora do ensemble Les Esprits Animaux, especializado na interpretação historicamente informada de música do período Baroco.
Já lecionou teclado, cravo e teoria musical em diversas escolas em Lisboa tais como no Lugar da Música e na Academia de Amadores de Música de Lisboa. Atualmente encontra-se inserida num projeto chamado MEMO que pretende levar execuções musicais a pré-primárias localizadas em Haia.

1)    Patrícia, apesar de teres iniciado o teu estudo musical com um instrumento de orquestra, o violino, por que motivo é que optaste pelo cravo?


A música é para mim uma paixão e o cravo, desde a primeira vez que ouvi o seu som, soube logo que era um amor à primeira vista. O momento da escolha entre o violino e o cravo foi inevitável. Era um sonho prosseguir com os dois instrumentos, mas para atingir o nível profissional era necessário uma carga horária de estudo e dedicação que não possuía na altura. A música tem de se amar para realmente se superar todos os momentos e o cravo era o instrumento que melhor me completava. Não se tratava de ser ou não instrumento de orquestra, porque, bem vista a situação, o cravo ocupa o lugar mais importante numa orquestra barroca. Mas quis conjugar a qualidade à paixão e assim optei pelo cravo.





2)    Por que razão decidiste ir estudar para o estrangeiro, depois de teres concluído a licenciatura em Portugal?


A ideia de ir estudar para o estrangeiro não surgiu só depois de terminar a licenciatura em Portugal, já tinha sida considerada a hipótese quando terminei o 12º ano e um professor de Paris me fez a proposta. Na altura não me sentia pronta para encarar um país, uma cultura e uma educação diferente do que estava habituada. Porém, a ambição de ir além-fronteiras não se dissipou e foi assim que, terminada a Licenciatura, considerei que seria o momento oportuno para ir em busca do desconhecido. Precisava de um novo desafio e, por isso, fui atrás dele, em busca de novas oportunidades para fazer música num ambiente que me proporcionava todas as ferramentas para isso.  Haia foi a escolha por ser um dos maiores centros de música antiga.


3)    Qual é a tua opinião acerca das oportunidades que existem para os cravistas e para a música barroca em Portugal?


Enquanto estive em Portugal tive a oportunidade de integrar uma produção de Ópera e de ser professora temporária na Academia de Amadores de Música, mas, para além disso, não tive oportunidade de explorar o quão além poderia ir. É certo que já existem algumas orquestras barrocas e o país não é suficiente grande ou pelo menos não tem um hábito cultural muito cultivado. No entanto, penso que a nova geração terá a obrigação de cultivar o gosto pela cultura, especialmente pela música e que músicos, como eu, que buscam a especialização fora do país regressem e tragam qualidade que lá buscaram.


4)    Como surgiu o ensemble Les Esprits Animaux?


No conservatório de Haia não existe a disciplina de música antiga, no entanto é conhecido pela intensa atividade de grupos de música de câmara. Surgem por iniciativas próprias, alguém tem a ideia de tocar algo e depois procura os músicos que melhor se adaptam às necessidades da obra a executar. E foi assim que surgiu os esprits animaux. Fizemos uma performance num dos primeiros concertos de Early Music Open Stage (palco aberto para música antiga) e foi um êxito, desde logo soubemos que era um grupo no qual a energia de todos se sentia e a paixão que nos unia era intensa. O ensemble é então formado por alunos do Conservatório Real de Haia de nacionalidades distintas – portuguesa, espanhola, francesa e japonesa.


5)    O que se define por uma interpretação historicamente fundamentada da música do período Barroco?


Uma interpretação historicamente fundamentada ou informada é baseada num estudo aprofundado das fontes, como manuscritos e tratados da época, dos estilos, da linguagem do compositor e dos instrumentos históricos de modo a fazer uma interpretação da obra o mais próximo de como foi pensada e executada pela primeira vez. No meu caso em particular, será sobre a música do período Barroco no qual se baseia o estudo que desenvolvo atualmente no conservatório de Haia.


6)    Concluis, através do contacto com os mais jovens, que estes continuam a manifestar interesse pelo cravo?


Ainda não tive oportunidade de lecionar cravo aos mais jovens, no entanto posso ter contacto com eles pós concerto e alegro-me sempre pelo interesse que demonstram pelo instrumento. Inicialmente pelo som, depois pelo mecanismo e, depois de tocarem no instrumento, surpreendem-se pela sua expressividade, isto é, tudo o que me atraiu neste instrumento.


7)    Quais são, a longo e médio prazo, os teus planos a nível profissional?


Continuar no estrangeiro será um dos planos a médio prazo de forma a enriquecer-me culturalmente e continuar o aperfeiçoamento da minha performance e trilhando o caminho para a especialização de repertório. Quero também continuar a participar na projeção do ensemble aqui formado, contando já alguns concertos para o próximo setembro. Irei continuar a trabalhar com crianças, porque é um projeto que me dá sempre vontade de continuar. A longo prazo tenho uma área que gostaria de enveredar, ou pelo menos ter paralela à performance, que é a Musicoterapia. Foi uma área que sempre me fascinou e considero que me sentirei completa por a praticar.


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