sábado, 1 de maio de 2010

Entrevista a Bernardo Sassetti, 2010


Entrevista a Bernardo Sassetti
 pelas alunas Paula Miranda e Susana Magalhães 
da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, em 2010
           

Nasceu em Lisboa em Junho de 1970.

Iniciou os seus estudos de piano clássico aos nove anos com a professora Maria Fernanda Costa e, mais tarde, com o professor António Menéres Barbosa, tendo frequentado  também a  Academia dos  Amadores de Música.  Dedicou-se  ao  Jazz, estudando com Zé Eduardo, Horace Parlan e Sir Roland Hanna.

Em 1987, começou a sua carreira profissional, em concertos e clubes locais,  com o quarteto de Carlos Martins e o Moreiras Jazztet. Participou em inúmeros festivais com Al Grey, John Stubblefield, Frank Lacy, Andy Sheppard, entre outros. Desde então, apresentou-se por todo o mundo ao lado de Art Farmer, Kenny Wheeler, Freddie Hubbard, Paquito D´Rivera, Benny Golson, Steve Nelson, integrado na United Nations Orchestra e no quinteto de Guy Barker, entre outros. 
Como compositor, escreveu suites para piano e orquestra e para 2 pianos e orquestra, entre muitas outras peças para pequenas formações.


Das gravações editadas em seu nome registam-se as seguintes: Salssetti; Conrad Herwig + Trio Bernardo Sassetti Live; Mundos; Nocturno (1º prémio Carlos Paredes); Mário Laginha/Bernardo Sassetti; Índigo, Livre; Grândolas (em duo com Mário Laginha); Ascent (1º prémio Carlos Paredes); banda sonora do filme Alice (2005); Unreal Sidewalk Cartoon; banda sonora da peça de teatro Dúvida e 3 Pianos (em trio com Mário Laginha e Pedro Burmester).



Dedicou-se regularmente à música para cinema, tendo realizado vários trabalhos, entre os quais se destaca a sua participação no filme The Talented Mr. Ripley, de Anthony Minguella. 



Os seus mais importantes trabalhos de composição para cinema são os seguintes: Maria do Mar de Leitão Barros, Facas e Anjos de Eduardo Guedes, Quaresma de José Álvaro Morais, A Costa Dos Murmúrios de Margarida Cardoso, Alice de Marco Martins, 98 OCTANAS de Fernando Lopes. 



Para Teatro, compôs a música de A Casa de Bernarda Alba (encenação de Diogo Infante e Ana Luísa Guimarães), Frei Luís de Souza Uma Leitura Encenada por Ricardo Pais e Dúvida (encenação de Ana Luísa Guimarães), editado recentemente em CD. 



Presentemente, e como concertista, apresenta-se em piano solo, em trio com Carlos Barretto e Alexandre Frazão, em duo com o pianista Mário Laginha ou em trio de pianos com Mário Laginha e Pedro Burmester


1-      Como foi a experiência de trabalhar um repertório de enorme maturidade com os jovens da nossa orquestra?

BS - Foi uma experiência brilhante e enriquecedora. Tivemos oportunidade de dialogar muitas vezes, tanto em grupo como individualmente, e estes dois dias de intenso trabalho revelaram pequenas coisas nas quais eu não acreditava totalmente. Enganei-me. Estes jovens mostraram um entusiasmo e uma dedicação fora do comum. Ouviram as minhas ideias sobre cada um dos movimentos e reproduziram-nas, tocando, de forma quase definitiva. Inesquecível.






2-      O que é que o levou a escrever “4 Movimentos Soltos”? Qual é o motivo de ser assim denominada esta obra?

BS – Muitas razões. A principal: uma tentativa de unir dois universos diferentes, a música clássica e a liberdade do jazz ou da música improvisada. É uma experiência notável quando sentimos que um grupo, habituado a tocar repertório clássico, aceita o desafio de procurar novos caminhos na música. Pode-se dizer também o contrário: nasci com a música clássica, segui os caminhos do jazz e desde há duas décadas que tenho aprendido muito com a subtileza e a seriedade de tocar música escrita e em grupo. Sinto muito fascínio pelas orquestras e elogio sempre o foco de interpretação, acima de todos os principais elementos da música.
Numa próxima oportunidade espero que todos possam improvisar também à volta de um tema. Esta sim, é a minha maior fantasia musical.

Fotografia de 2008

3-      Nestes quatro andamentos é possível encontrar diferentes influências, destacando-se, em concreto, a jazzística. A partir de que altura é que a começou a explorar?

BS - Desde os 12 anos, desde que comecei a entrar no Jazz. Foram momentos de grande intensidade, numa altura em que senti alguma solidão no sentido de encontrar uma voz. Ainda sinto essa solidão muitas vezes quando componho. Resta-me a alegria de poder partilhar a música com pequenas ou grandes formações. Com os músicos e com o público.

4-      Quando fez a revisão desta obra, que outro tipo de sonoridades procurou?

BS - Não revi esta obra. Apenas acrescentei saxofones. Quando tal me foi pedido (e muito bem) só fiquei com medo de não ter tempo suficiente para o fazer. Mas tinha plena consciência da forma como poderia acrescentar as vozes dos saxofones soprano, alto e tenor. São instrumentos muito familiares no meu universo da música improvisada. Aliás, tenho um “irmão” musical que é saxofonista, chama-se Perico Sambeat e é valenciano. Já escrevi muitas peças para ele.

5-      Como foi trabalhar com Jean-François Lézé, que, para além de intérprete, é também compositor? Porquê dedicar-lhe estes “4 Movimentos Soltos”?

BS - Muito bom, como sempre. Conforme escrevi nas notas do programa, considero o Jean-François um músico de eleição, da energia e do silêncio. Esta peça é também escrita a pensar nestas suas características. A música corre-lhe naturalmente nas veias. É muito fácil e empático trabalhar com ele.

6 -     Quais as experiências mais marcantes que vivenciou enquanto compositor e pianista?

BS - O nascimentos das minhas filhas. E viver com elas todos os dias.

7-      Sente que o público português responde bem a esse seu estilo tão diversificado?

BS - Gosto muito do público português. Mas ainda não o percebi de forma profunda. Às vezes sim, outras vezes não. O consenso é muito perigoso na área das artes. Gosto da crítica e aprendo com ela. Mas tenho uma clara noção de que as pessoas não falam de música com receio de dizer disparates. Nos jornais e revistas o espaço de escrita é curto e vago, relativamente ao empenho, ao percurso e à procura de cada um dos artistas. 
Enfim, o mais importante é sentir alguma coisa, alguma emoção, uma certa identificação com a música que ouvem.
Fotografia de 2008

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