quinta-feira, 30 de maio de 2013

Jano Lisboa, ex-aluno da EPMVC, conquista o lugar de viola solo da Orquestra Filarmónica de Munique


Jano Lisboa é membro titular da Orquestra de Câmara de Munique com quem gravou discos com obras de Rossini, Mozart, Hosokawa, Bach, entre outros.
Em Fevereiro de 2013, conquistou o lugar de viola solo da Orquestra Filarmónica de Munique e começará a trabalhar com orquestra no próximo mês de Setembro coincidindo com o início da nova temporada de concertos que levará a orquestra a uma digressão aos Estados Unidos da América.

Jano é membro fundador do Vellit Quartett – um quarteto com piano – onde colabora com Uli Witteler (solo violoncelo da Orquestra Sinfónica de Bamberg), Katja Lämmermann (concertino da Gaertnerplatz Opera em Munique) e Julian Riem (professor nan Musikhochschule em Munique).

Paralelamente à sua carreira na música clássica, Jano Lisboa dedica-se ao seu projeto rock intitulado Asphalt Kiss. O primeiro disco está a caminho e foi gravado nos Estúdios Namouche e Rosa dos Ventos em Lisboa encontrando-se neste momento na fase de misturas. Num futuro próximo irá para Los Angeles para finalizar o disco com a masterização com Tom Baker (Deftones, Nine Inch Nails).

               Programa do concerto de 29 e 30 de Janeiro 2011

Entrevista a Jano Lisboa

para a Escola Profissional de Música de Viana do Castelo
por Susana Magalhães, em 2006


terça-feira, 28 de maio de 2013

Entrevista ao professor Barry Cooper, 2013

Entrevista ao professor Barry Cooper, musicólogo, compositor, organista, especialista em Ludwig Van Beethoven e editor de Beethoven Compendium.

Barry Cooper estudou música na Universidade de Oxford e é, desde 2003, professor da Universidade de Manchester. Tornou-se especialmente conhecido pelos seus estudos sobre Beethoven, tendo editado vários livros sobre o compositor.   


Bárbara Barros, Maria Inês Ferreira e Sara Lima, maio 2013, Escola Profissional de Música de Viana do Castelo


  1 – Quais foram os mais importantes momentos do seu percurso musical?

Havia um piano em casa e quando eu tinha cerca de quatro anos comecei a tocar melodias de ouvido. Na altura, a minha mãe perguntou-me se eu gostaria de aprender a tocar piano “como deve ser” e eu aceitei. Depois, ela disse: “Então vamos visitar a nossa vizinha!” e eu pensei: “Isso faz sentido, porque a mãe ensina-me a ler, mas como a música é um pouco mais complicada tenho de avançar uma porta”! E assim aconteceu. Tive uma muito boa professora de piano que visitava quatro vezes por semana para alguns minutos aula.
Mais tarde, porque gostava de cantar e porque o meu irmão se juntou ao coro de uma igreja decidi também o fazer, apesar de ainda ser demasiado novo. Na verdade, fui o corista mais jovem que eles tiveram, mas não tinha boa voz.
Depois, tentei juntar-me ao coro de uma catedral importante e eles fizeram-me testes de apetência musical, de ritmo e de voz. Apesar de ser muito musical, e de ter conhecimentos musicais, continuava a não ter voz para cantar.
Perguntei se não poderiam treinar a minha voz e eles disseram que sim, mas precisavam de “algo” por onde começar! Foi aí que compreendi que a minha voz “nem tinha por onde começar”!
De seguida, aprendi a tocar órgão na escola e foi assim que entrei no mundo da música. Também comecei a compor, na verdade, estava muito interessado na composição... 
Quando eu tinha sete anos descobri que Mozart tinha escrito uma peça que eu estava tocar aos seis, então pensei que já estava atrasado e por isso deveria começar! As minhas composições não eram boas, mas compus muitas peças nessa altura.
Mais tarde consegui uma bolsa de estudo para estudar música numa escola pública. Por essa razão, não tive de estudar outras disciplinas que eu até considerava difíceis como química ou história. Depois entrei na Universidade de Oxford onde continuei os meus estudos musicais e foi aí que finalmente senti que estava no sítio certo. Foi na Universidade que me senti um verdadeiro músico por estar rodeado por pessoas que pensavam da mesma forma que eu.
Foi nessa altura que comecei a interessar-me por História da Música e por Musicologia e, por isso, comecei a fazer algum trabalho de investigação.
Na Universidade conheci dois muito bons especialistas em Beethoven que me ensinaram a fazer investigação e me incentivaram a procurar manuscritos. Participei também num seminário em Londres e escrevi um artigo sobre Beethoven que foi publicado. A partir daí, os editores começaram a enviar-me livros sobre Beethoven, às vezes até em alemão! E foi assim que tudo começou… pensei: “Devem achar que sou uma especialista em Beethoven, por isso mais vale tentar tornar-me num”!
Beethoven já era um dos meus compositores favoritos, mas só nesta altura comecei a fazer trabalho mais sério de investigação. O seminário era sobre a Sinfonia Heróica e eu decidi investigar sobre como é que esta sinfonia tinha sido escrita e descobri que este tipo de investigação ainda não tinha sido feito. Na altura eu pensava, como muitas pessoas pensam, que tudo estaria estudado sobre Beethoven, mas não é assim. 
Havia milhares de páginas de rascunhos todos misturados que não tinham sido estudados e muitos nem olhados. Então, pensei: “Isto vai manter-me ocupado durante bastantes anos, na verdade, vai ocupar várias pessoas durante alguns anos…” e foi este tipo de investigação que fui fazendo ao longo do resto da minha vida.
Antes de estudar Beethoven também já tinha investigado outros compositores, como por exemplo Albertus Bryne, mas quando contava o que estava a fazer, as pessoas perguntavam-me quem era Albertus Bryne! A partir do momento em que comecei a estudar Beethoven, a minha investigação começou a despertar a atenção de muitas pessoas interessadas em saber aquilo que eu ia descobrindo.  




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crónicas

     Quem não conhece o famoso slogan da Nike Just do it? Quem não conhece as três riscas da Adidas?
     Miúdos de 7 anos fazem birras por quererem ter roupa de marca, ténis de custo elevado. No entanto, nem todos os pais conseguem sustentar tais caprichos, mas, para esses miúdos e adolescentes, a marca é tudo, para ser o “estiloso” na escola e ser aceite sem quaisquer problemas entre grupos de amigos.
     Se um adolescente usar roupa “barata”, por assim dizer, os colegas vão pensar, “Tu compraste isso na feira!? Falhado!”
     É triste a realidade da futilidade disto tudo, mas passa-se nos dias de hoje, passa-se em todas as escolas. Mas não culpo somente os jovens por terem tais comportamentos, culpo também a publicidade a essas marcas que nos iludem tão bem. Queremos sempre ter aquilo que não conseguimos alcançar, mas a publicidade faz-nos querer consumir. Cumprindo assim, também o seu papel.
       Pena é que os jovens não se preocupem mais em com o “ser” do que com o “parecer ser”. Pena é que os jovens não procurem enriquecer interiormente e se preocupem mais com o exterior, com a aparência, com aquilo que aparentam ser ou possuir.
    Gostaria que a nossa sociedade fosse menos fútil e incutisse aos jovens outros valores, como o de se tornarem seres melhores, cidadãos ativos, preocupados com o ambiente, com questões sociais, com a sua cultura e educação. Porém, a verdade é que não vivemos numa sociedade perfeita e cabe-nos a nós saber fazer as nossas escolhas, cabe-nos a nós decidir entre a futilidade material ou a riqueza interior daquilo que somos e não daquilo que parecemos ser.
     Amigos, preocupem-se com o “ser” e não com o “ter”.

Georges Pereira, aluna da EPMVC, 2013


Falta de cultura

            Olho à minha volta e deparo-me com um país de portas fechadas à cultura. Portugal tem hoje uma percentagem mínima de população que consome cultura, quase toda ela velha e sem herdeiros. A cultura de massas venceu!
            É triste olhar ao nosso redor e perceber que o povo português é isto: é estar sentado no sofá ao domingo à noite, em frente à televisão, a ver a provocadora da Teresa Guilherme, é ouvir “brasileirada” a toda a hora, é passar horas a invejar/criticar a vida da vizinha nas redes sociais, é ignorar ou falar mal das artes em geral. E depois criticam a música pimba e o folclore, e até as beatas da igreja, quando, no fundo, não somos muito melhor que isso. É preocupante saber que as pessoas conhecem este ou aquele jogador de futebol do Porto ou do Benfica, quando não fazem a mínima ideia de quem foi Bach, Rousseau ou Goethe.
            É lamentável, mas é mesmo assim, nós aceitamos aquilo que nos “vendem” barato. E a culpa é nossa que elegemos esta gente, que os aceitamos, que votamos neles! Depois, as consequências estão à vista de todos – somos um pequeno país que sofre com a crise económico-financeira e, pior do que isso, que atravessa uma grande crise de valores. O nosso país continua de portas fechadas à cultura e ao conhecimento, enquanto isso continuar a acontecer não vamos evoluir, não vamos ser melhores.
            E tudo isto respeitando os gostos e as opiniões de cada um.


Isa Tavares, aluna da EPMVC, 2013


Crianças ou Adultos?
               
Atualmente, vemos rapazes e raparigas com dez anos, ou até menos, a perceberem mais de tecnologias e informática do que muito adultos, não estou a dizer que isto prejudique a sociedade, mas, na minha opinião, acho que com essa idade não deviam dar tanta importância a esses suportes, deviam ler mais livros, utilizar mais o lápis e o papel.
Ainda hoje fui a um café e deparei-me com um jovem, sentado com um Tablet na mão e a enviar mensagens, sem dirigir uma única palavra à sua mãe! Ridículo não é?!
À noite, acedi ao Facebook, mal abri a página houve logo uma imagem que se destacou de tudo o resto, uma rapariga de catorze anos com um cigarro na boca a exibir-se para a câmara. Como eu, muitos espectadores veem estas imagens e ficam logo com elas gravadas na mente. Porque será?! Porque será que estas crianças têm este tipo de comportamento? De facto é uma triste realidade que assistimos todos os dias e que somos “obrigados” a aceitar.

Marta Miranda, aluna da EPMVC, 2013



O que foi e o que será


É curiosa a diferença que encontro entre um simples diálogo com uma avó, por exemplo, e um diálogo que encontro, por mero acaso, porque isso é possível atualmente, no mural de uma qualquer rede social. Não sou contra as novas tecnologias nem contra o seu desenvolvimento, até porque também usufruo das suas utilidades mas, como diria alguém mais velho, tudo o que é demais é erro e, na minha perspetiva, esse erro tem vindo a desenvolver-se demasiado.
Acho ridículo um encontro entre amigos se tornar numa sessão fotográfica para ser exposta a outros “pseudo” amigos que irão comentar tal ato.
Em poucos momentos a história da minha vida pode ser divulgada ao mundo. Se retratar a vida de uma criança que só faz asneiras, ficarei rapidamente conhecida e adorada. Se contar a minha história, serei mais uma entre muitos falhados que estuda e gosta de obter bons resultados.
Sinceramente, não quero saber. Não serei um parasita da sociedade.



Susana Marli, aluna da EPMVC, 2012



A  MINHA  REALIDADE

Ali estava eu, em mais uma aula de Português, a falar sobre os textos dos média, quando a professora nos pediu para fazermos uma crónica. Confesso que não saltei de alegria no início, mas depois lembrei-me daquilo que faço (ou tento fazer) todos os dias – música.
Nos dias que correm, para se ser estrela pop, basta sabermos cantar umas notinhas afinadas, pôr uns vídeos no Myspace e/ou Youtube. De repente, poof!, somos conhecidos quase internacionalmente. Isto, enquanto nós, eu e os meus colegas, estudamos diariamente nesta escola durante seis anos, mais os restantes que virão da universidade; já para não falar de tudo o que iremos estudar durante toda a nossa vida até irmos desta para melhor.
Não é que eu não esteja fascinada no modo como a Lady Gaga exibiu o seu vestido de carne, na vida romântica de Justin Bieber, que deve ter enchido outro estádio com fãs a gritar histericamente a letra decorada de todas as suas músicas, ou até na operação às cordas vocais da Adele. Isto, obviamente, sem querer pôr em causa os gostos musicais de cada um.
Todos eles (e muitos mais), ganham balúrdios de dinheiro por aparecerem. Nós estudamos e 95% não ganhará nem um quarto do que eles ganham. Nós temos talento e esforço, eles têm máquinas  e a sua imagem.
Mas, apesar disso, tenho orgulho em dizer que estudo e trabalho todos os dias para conquistar os meus objetivos e sonhos.

Bárbara Ferreira, aluna da EPMVC, 2012

domingo, 19 de maio de 2013

Encontro de Violas EPMVC e AMVC 2013



Os professores de viola d’arco da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo (EPMVC) e da Academia de Música de Viana do Castelo (AMVC) organizam, desde o ano letivo 2008/2009, um “Encontro de Violas EPMVC e AMVC” com o objectivo de vivenciarem um momento de partilha e de convívio.
Este encontro acontece anualmente, sempre com um formato diferente e, uma vez que de dois em dois anos também se realiza o Encontro Nacional da Viola d’arco organizado pela Associação Portuguesa da Viola d’arco (www.apvda.com), os professores e os alunos da EPMVC e da AMVC juntam-se, ano sim, ano não, a esta iniciativa.

Em 2013 o 7º Encontro Nacional da Viola d’arco realizou-se no dia 19 de maio com ensaios durante a manhã no Conservatório de Música do Porto e uma apresentação pública durante a tarde, no Dolce Vita Shopping Center Antas – Porto.
Os 20 alunos e 5 professores participantes foram distribuídos pelos diversos naipes, cada um representado por uma cor diferente, que por sua vez se uniram para formar a Maior Orquestra de Violas do Mundo, superando o record mundial, reconhecido pelo Guinness World Records, alcançado no 6º Encontro Nacional, em 2011, desta vez, com um total de 353 violetistas.













Estes momentos, para além de estimulantes e motivadores, tornam-se memórias inesquecíveis no percurso artístico dos alunos e dos encarregados de educação que os acompanham.


Rafael Cutiño, Luís Norberto, Adélia Certo, Sara Rodriguez e Sara Barros.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Textos vencedores Concurso “Histórias na Praça” 2013 - Ao NORTE (Com Vídeos)


Vídeo: Ao Norte - Lugar do Real - Histórias da Praça - É tarde, muito tarde…





É tarde, muito tarde… Travo uma batalha difícil com o sono que não chega.
Olho em redor e é tal a beleza da Praça que me rodeia, que não hesito: ficarei mais um pouco, para explorar, para entender a beleza destas pedras dos Paços do Concelho que me transportam ao passado. O belo Chafariz… A Misericórdia… Subo lesto os curtos degraus nas traseiras dos Paços do Concelho. Vislumbro de imediato, o que me trouxe aqui, sem pensar, sem querer, movido apenas por algo que não se explica em palavras… No principio… Como seria no princípio? Eis  a resposta, pelo menos uma pista. Os restos, pedras, falam da muralha que cercava a cidade. Aquelas pedras contam-me histórias com cheiro a mar, mas com suor, com lágrimas, com gritos de revolta e com pregões.
Dentro desta muralha viveram cavaleiros, frades, pescadores, oleiros, almocreves, ferreiros, sapateiros. Miúdos sujos correm por entre o pescado, o pão, o vinho, o azeite, a cera, cervos e gamos. Há ainda as bruxas, essas criaturas mágicas que parecem mulheres e trazem brincos nas orelhas! Devem ter apanhado as uvas há pouco pois foi grande o alvoroço quando cheguei,
Que grande trambolhão! Entusiasmado, aproximei-me perigosamente da muralha e caí, sim caí mas sem dor e agora envergonho-me sob os olhares meio divertidos que me lançam. Devem ter apanhado as uvas há pouco e pisaram-nas certamente, pois mergulhei numa mistura mal cheirosa e pegajosa. Fiquei preto de repente. Todos, homens, mulheres e crianças, fitam-me como que esperando algo. Não é medo que lhes leio no olhar…Num rasto de poeira, vejo que me atiçam os cães lazarentos e esfomeados. A Praça não é mais a bela Praça que me acolheu numa noite calma de verão. É um lugar tosco e cruel com armas, cestos, cães, bruxas, procissões esquisitas. Procuro um lugar seguro e só me resta um caldeirão que dois homens vesgos esvaziaram entre jarras de vinho. Os cães?
Os cães? Perderam-me o rasto. Aproxima-se uma bruxa e rapidamente concluo que os dentistas fariam bom negócio com a bruxaria que me rodeia ! Arreda! Arreda!
 -Sim? É tarde. Sim muito obrigado. Devia estar a dormir. E só um arranhão.
Sim, percebo que é perigoso. Obrigado. Está tudo bem.
Acordado de tão grande pesadelo, olho em volta. O belo Chafariz continua no mesmo sítio, a Misericórdia, até o Caramuru continua de rabo ao léu, ignorando completamente esta minha viagem ao passado. Ele também deve ter das boas para contar…

Maria Luísa Couto, 2013





Desde sempre que o nosso destino está traçado. Alguns aceitam-no tal como ele é, outros fazem de tudo para seguir o seu próprio caminho.
Eu sou a Jane MacClain, uma rapariga de 16 anos, com a vida toda escrita, como num conto de fadas. Esse é o meu problema…
Estamos a 25 de julho de 1992. É madrugada e já estou a fazer a minha corrida matinal. Dei duas voltas à Praça da República da minha cidade, como de costume. Ia começar a terceira volta, quando escorreguei numa pedra! Sentei-me, respirei fundo, com os phones a cairem-me das orelhas, apoiada na escadaria que rodeia o chafariz. Concentrei-me na música que estava a ouvir e esvaziei a alma, focando-me apenas em mim e esquecendo o mundo à minha volta. Fechei os olhos… A música acabou… Voltei a abri-los. Levantei-me e fui dar uma volta pelos Paços do Concelho. Decorria uma exposição.
 – Tanta arte! Pinturas, esculturas… Que exposição linda! – disse para mim.
Voltei lá para fora e contemplei o chafariz. Pareceu-me ver algo escrito. Concentrei-me mais. Sim, havia ali uns escritos. Finalmente consegui decifrar, dizia “Morta 250753”.
 - Ah! – gritei, assustada.
O que queria aquilo dizer? Olhei para a frente e uma luz forte me ofuscou… Tive uma visão… Na minha cabeça aparecera um homem estranho. Não deu para perceber quem… Não vi a cara… Assustada fui para casa a correr.
– Querida, está tudo bem? Porque demoraste tanto? – perguntou a minha mãe, aflita.
– Nada! Eu estou bem. Não se passa nada… - disse eu, assustada e quase sem respirar.
Os meus pais olharam-se nos olhos, preocupados.
Nessa noite, tive um pesadelo. O homem outra vez na minha cabeça! Cada vez mais sentia uma ansiedade enorme em saber quem era aquele homem que me invadia os sonhos.
Desde os oito anos que tenho estas visões. Nunca falei disso a ninguém… A voz dele ecoava na minha mente, enquanto eu dormia.
– Café Caravela! – sussurrou ele como se me contasse um segredo.
O homem virou-se de costas e era possível ver-se uma tatuagem com um número. Parecia um código. Continuei sem perceber quem era… Acordei assustada… Não consegui dormir mais, a pensar naquilo.
Era de manhã. O sol brilhava e eu fui correr, como sempre. Cansada sentei-me numa cadeira da esplanada do café Caravela. Momentos depois lembrei-me do sonho… O homem tinha-me sussurrado o nome daquele mesmo café. Entrei. Olhei à minha volta... Havia algumas pessoas sentadas. Tive outra visão… A cara do homem viu-se perfeitamente.
– Ah! – assustei-me. – Quem é ele? – perguntei a mim mesma.
O meu coração batia cada vez mais depressa como se eu precisasse de descobrir todo este mistério. Estava quase a virar costas quando, de repente, vi um homem sentado na mesa do fundo do café. Era ele! Só podia.! Era a mesma pessoa, a mesma cara que vi tão nítida ainda há momentos, na minha visão mais recente.
O meu coração parecia que saltava para fora do meu corpo. Respirei fundo e acalmei-me. Dirigi-me à empregada do café e disse-lhe:
– Oiça-me com muita atenção! – pedi, e ela acenou com a cabeça. – Preciso de um favor seu que é de extrema importância. Quero que esteja atenta a tudo que eu fizer e aponte neste papel o que lhe vou mostrar! 
Dei-lhe um papel e ela seguiu-me. Fui ter com o homem…
Ele nem estranhou eu ter aparecido. Parecia estar embriagado. Sentei-me ao pé dele. Cumprimentei-o e começamos a falar. A empregada do café fixava os olhos em mim à espera de algum sinal.
Perguntei-lhe se era dali, pois não me lembrava de o ter visto antes. Trocamos mais umas palavras até que resolvi despedir-me.
– Tenho que ir. Prazer em conhecê-lo. – disse-lhe eu - Permita-me que o abrace.
Enquanto isso, puxei-lhe a gola da camisola para baixo. Lá estava a tatuagem. Dei sinal à empregada que logo apontou o que viu no papel.
Depois de ter agradecido à empregada, saí do café, apertando o papel entre os dedos com todas as minhas forças. Fui sentar-me nas escadas do chafariz. O número agora escrito no papel coincidia com o escrito no chafariz.
– É ele! O homem dos meus sonhos e das minhas visões! Mas o que significava tudo isto? – perguntei.
Depois, lembrei-me que a minha mãe me contara uma história sobre a sua infância. Uma jovem havia sido brutalmente assassinada naquele local. Toda a cidade ficara fortemente abalada e, durante anos, o medo assolava todas as pessoas. Essa jovem seria a minha avó materna. A minha mãe lamentava muitas vezes o facto de mal ter conhecido a sua mãe, que lha tinham roubado, tinha ela apenas 4 anos. Concentrei-me nesta história. Segundo a minha mãe, este episódio teria ocorrido em 25 de julho de 1953.
Foi então que refleti melhor. Os números em código eram iguais à data.
- 250753… - disse eu - O homem é o assassino! Descobri!
Dias depois, voltei ao café Caravela. Lá estava ele. Fui dizer-lhe que gostei de o conhecer e de conversar com ele e que gostaria de voltar a encontrá-lo noutro dia. Coloquei-lhe um comprimido no copo do seu licor, sem que ele se apercebesse. No comprimido, estava escrita a palavra “MORTE”.
Fui para casa sem saber se ele havia tomado a tal droga.
Quando entrei no meu quarto, a minha mãe estava lá. Olhei em frente… Outra visão… Desta vez, vi o homem a beber o licor e a cair estendido no chão.
– Ah! – suspirei.
– Que foi filha? – perguntou a minha mãe.
– Nada mãe… Está tudo bem…Agora, está tudo bem! - respondi.
Deitei-me na cama satisfeita por, finalmente, ter sido feita justiça. Desde então, os sonhos e as visões que durante anos me atormentavam, deixaram de existir.
Às vezes, pensamos que é difícil desvendar mistérios, vencer perigos ou sacrificar algo por alguém. Com isto, aprendi que nem sempre o destino está traçado. No conto de fadas que alguém escreveu para nós, podemos sempre ser os heróis, só é preciso ter o código certo.
Mas não podemos nunca esquecer que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.


Joana Rocha, 2013


Histórias de Adolescentes
Rute, a mãe mais nova do mundo, vivia em Wakamalakué, uma pequena ilha no meio do Pacífico e só habitada por ela, pelo seu pai, um vulcanólogo, chamado Oliver, com quem ela vive e por mim.
Eu sou um rapaz que vive com eles. A minha mãe morreu e o meu pai fugiu do país com o seu cadáver num frigorífico. Ele é um criminoso famoso, chamam-lhe o avô Keké. Isto foi o que Oliver me disse. Ah, esqueci-me de dizer as nossas idades! Eu tenho 16, a Rute tem 14 e Oliver tem 29 anos.
Certo dia, Oliver foi fazer uma investigação ao vulcão da ilha e eu e Rute tivemos uma noite de intenso amor. A meio da noite, Rute ouviu uns barulhos e acordou. Depois olhou para as janelas e viu uma sombra que abanou as cortinas brancas. A sombra começou aos risos, com uma voz fina de esquilo. Continuou aos rodopios à volta da casa, mas sempre acelerando o passo. Então, num piscar de olhos, Rute estava num local completamente diferente.
Este local era espantoso, tinha um chafariz muito bonito e uma estátua preta. Rute não gostava dessa cor…
Certo dia, eu e ela tínhamos ido dar um passeio ao Jardim das Ortigas – tinha este nome, pois segundo os estudos de Oliver, aquele lugar tinha sido um vasto campo de ortigas – e ela encontrou uma rosa preta. Decidiu apanhá-la, mas picou-se. Como ela ainda tinha três anos, começou a chorar muito alto. O sangue dela pintou as rosas brancas de vermelho, mas as pretas mantiveram-se da mesma cor. Isso assustou-a. A partir desta altura ela nunca mais gostou da cor preta.
No local estranho onde estava, encontrou um homem que vivia na rua. Ela nunca tinha visto um mendigo. Dirigiu-se ao homem e perguntou-lhe, bastante curiosa:
- Onde estamos?
- Percebe-se que não és mesmo daqui. Tu ficaste espantada ao veres que eu vivo na rua.
- É verdade, eu não sou daqui.
- Estamos na Praça da República, em Viana do Castelo.
Então ela contou a sua história ao homem, que ficou espantado, mas ele ainda a espantou mais com a sua história. Ele disse-lhe que se chamava Rabatt e tinha 35 anos. Ele conhecia a cidade de Viana do Castelo como ninguém. Sabia atravessá-la de olhos fechados. Conhecia o nome das ruas, as lojas, as casas, as escolas e até os multibancos. Ele ajudou-a a orientar-se em Viana. Viveu com ela oito meses no seu banco na Praça da República.
Certo dia, o dono de um café lá perto ofereceu-lhe trabalho e ele aceitou. Nesse mesmo dia, Rute, já com um bocado mais de barriga, ficou doente. Estava irritada, com febre e vómitos. Ele levou-a ao hospital, onde foi examinada. Um médico dirigiu-se a ele, pois ele já a tratava como filha.
- Como está Rute? Tem algum problema? – perguntou Rabatt.
- Tenho uma notícia para si.
- Qual? Ela está bem? É grave?
- Acalme-se, pois bem precisa.
- Porquê? Ela morreu? Ai, eu já sabia!
Ao dizer isto, Rabatt começou a chorar com as mãos na face.
- Vai ser avô! – exclamou o médico.
Ele continuou a chorar cheio de alegria, mas a pensar “quem seria o pai?”.
Entretanto, na nossa ilha, houve uma tempestade, eu e Oliver naufragamos e ficamos à deriva no oceano.
Pouco depois de sair do hospital, Rute foi para a casa do patrão de Rabatt, pois ele era bastante simpático. Rabatt perguntou a Rute quem era o pai da criança. Então, ela respondeu-lhe contando a minha história:
- O pai do meu filho chama-se Vasco. Eu conheci-o, pois os nossos pais conheciam-se. O Vasco não tem, na realidade, a idade que diz ter. Ele teve um problema. Quando a mãe dele morreu, o seu pai enlouqueceu, tornou-se cleptomaníaco e fugiu. O Vasco, que tinha seis anos, sofreu um feitiço, o espírito da sua mãe disse-lhe que ele ia tornar-se imortal e vampiro, aos 18 anos. Agora ele tem 16 anos, mas aparenta ter 18, em aspeto físico. Daqui a dois anos, tornar-se-á vampiro.
Ao acabar de dizer isto, Rute começou a ter dores de barriga e enjoos. Ela já se encontrava grávida há oito meses. Havia fortes probabilidades de a gravidez ser prematura.
- Será que ela estará para ter o bebé? – pensou Rabatt.
No mar, perto da nossa ilha, enquanto eu e Oliver tentávamos sobreviver , aproximou-se de nós um barco, onde estava o meu pai, que trazia o cadáver da minha mãe num frigorífico. O meu pai, ao ver-me a mim e ao Oliver, recuperou a sanidade, naquele instante, deixou de ser louco, abriu o frigorífico e tirou o corpo da mulher. Então, a minha mãe começou a respirar e a falar. Ela levantou-se e deu-me um abraço. 
- Meu filho, o teu feitiço vai-se quebrar! Vai ser pai e essa era a única forma de quebrar a maldição – disse a minha mãe.
Aquilo que a minha mãe dissera pareceu-me estranhíssimo e não dei grande importância, achei que a minha mãe não devia estar muito bem.
Quando demos por nós, já víamos a costa. Estávamos num rio e víamos agora uma marina. Pelos livros de Geografia que eu tinha lido, estávamos em Viana do Castelo.
No momento em que pisamos terra, na marina de Viana do Castelo, a nossa ilha  foi engolida pelas águas. Nunca mais a vi. Eu comecei a correr de alegria e, a certa altura, vi uma ambulância a passar. Consegui ver que era Rute que ia para o hospital. Gritei pelo seu nome, Oliver ouviu e veio a correr, a ambulância parou.
Na ambulância, eu comecei a chorar de alegria. O meu filho tinha nascido. Eu e Rute beijámo-nos. Oliver pegava na criança. Estava muito feliz: recuperara os meus pais, reencontrei Rute, não podia ser melhor!
Então, Oliver disse, olhando para Rabatt, que se encontrava ao lado de Rute:
- Há uma coisa que eu tenho de dizer. O Rabatt é tio da Rute. Ele é irmão da Estela, mãe de Rute. Ele é irmão de Estela, mãe de Rute!
- Tu sabias disto? – perguntou Rute a Rabatt.
- Não fazia ideia. Eu nem sabia que tinha irmãos – respondeu-lhe o tio.
- A tua mãe disse-me que tinha um irmão – confirmou o meu pai. – Ela disse que eram filhos da mesma mãe. 
Todos refletiram sobre esse assunto, mas chegaram à conclusão de que era melhor aceitarem esta ideia.
- Que nome vão dar à criança? – perguntou minha mãe.
- Eu gostava de lhe chamar Estevão – sugeriu Rute.
- Descansa – aconselhei-lhe eu. – Amanhã decidimos isso. Temos tempo.
Poucos dias depois, decidimos chamar-lhe Estevão.
Agora, eu vivo com os meus pais com Rute e com o nosso filho, num apartamento na Praça da República, ao lado do apartamento de Rabatt, de Oliver. Estevão já tem 3 anos.
Os apartamentos em que vivemos foram pagos com o dinheiro que Oliver ganhou pelas suas pesquisas no vulcão. Agora ele é escritor. Já ganhou um prémio com a sua história de Wakamalaqué, que fala sobre as suas descobertas científicas dessa ilha submersa pelas águas.
Rabatt, pelo contrário, perdeu o emprego por causa de Rute. Então, Oliver decidiu pagar-lhe um curso de nadador salvador e agora, no verão, trabalha na Praia Norte, como nadador salvador. Até já combateu com um tubarão.
Eu casei-me com Rute. A minha mãe encontrou emprego como empregada de bar. O meu pai deixou de ser ladrão e é segurança da discoteca Prosak.
Hoje, vamos fazer mergulho no rio, junto à marina. Rabatt alugou um barco e eu pedi licença à Câmara Municipal para fazer mergulho no rio Lima. Agora, neste momento, do dia 3 de agosto de 2015, estou a vestir-me e a preparar-me para a “Expedição Submarina”. Pode ser que encontre alguma surpresa no fundo do rio.

            Eduardo Lima, 2013







De todas elas, foste a melhor. E tu sabes.
O inverno tinha pouco tempo ainda e o sol não tinha qualquer efeito em nós. Só os nossos corpos nos aqueciam no frio e nos davam aquela sensação de conforto, de casa.
Eu sei e tu sabes que o Inverno não existiu.
A praça estava perfeita ao início da tarde. Aproveitava para acabar o poema que me virias a pedir. Continua a ser o sítio onde passo a maior parte do meu tempo.
Podia sentir aquela intensa mistura de cheiros: café, torradas e uma leve sensação de liberdade. Ao mesmo tempo, uma ansiedade constante, uma correria interminável, uma total falta de liberdade. Tantas vidas desperdiçadas.
Sentado numa cadeira virada para o chafariz, observava as suas cores e tudo o que o envolvia. Algo naquele cenário me faz viajar e percorrer um mar de pensamentos.
Enquanto viajava, apareceste de mansinho sobre o chafariz. Observaste todos os seus pormenores, até os mais irrelevantes. Demonstravas um carinho especial por algo que parecias ver pela primeira vez.
Sem contar, entraste na minha viajem e eu deixei. Naquele momento, fazias parte da minha contemplação.
Cabelos lisos, castanhos, olhos grandes cor de caramelo, lábios carnudos e um pequeno sinal sob a boca.
Subitamente, olhaste para mim. Como te apercebeste que te observava, fizeste um leve sorriso. Envergonhada, acenaste com uma mão para mim como se de amigos já nos tratássemos. Eu sorri e acenei também. Ainda com um sorriso no rosto, vieste na minha direção.
Imaginei como seria a tua voz, doce, delicada, meiga. Estava certo e nesse momento despertaste em mim algo novo.
- Importa-se que me sente aqui? – perguntaste desinibida.
- Com certeza que não – sorri.
Conversamos tempo sem fim, pela tarde dentro, literatura, música, viagens, plantas, insetos, pessoas, tudo como se nos conhecêssemos há anos. Parecia surreal duas pessoas completamente desconhecidas terem passado uma tarde como a que passamos.
Combinamos encontrar-nos no dia seguinte, no mesmo local, à mesma hora. Estava com medo que não aparecesses, mas apareceste.
Tinha curiosidade em saber quem eras e o que fazias em Viana, mas achava demasiado ousado perguntar. Porém, fi-lo e tu disseste:
- Vim a Viana recordar o que na verdade não foi vivido por mim, descobrir origens. Os meus pais verdadeiros eram naturais desta cidade e não puderam ficar comigo quando nasci. No entanto, deixaram-me uma carta onde falavam de como se conheceram e de como seriam felizes em manter-me com eles. Vivi com duas pessoas maravilhosas, até há pouco tempo, e agora tenho a minha vida em Paris.
Ficaste um pouco entristecida. Peguei na tua mão e perguntei:
- Vais ficar por cá quanto tempo?
- O tempo que achar necessário. Até que tudo faça sentido.
Passámos tardes naquela praça. Eu escrevia e tu olhavas-me. O tempo parecia não passar enquanto falávamos. Tudo estava em constante harmonia.
Levei-te a conhecer a minha casa e lá passámos bons momentos. O sítio não importava, estares ao meu lado era o mais importante.
Partiste, mas fizeste daquele nosso inverno o mais quente que vivi.
Espero que um dia voltes. Sei porque partiste, não pertences aqui. Só a ideia de ficar onde nunca pertenceste, mas devias ter pertencido, faz-te mal. Acho que é normal e, na verdade, nunca o saberei.
Com saudade,
Miguel

Carolina Viana, 2013