sexta-feira, 8 de maio de 2009

Entrevista a Sérgio Azevedo, 2009

Entrevista a Sérgio Azevedo,
 para a Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, em 2009

Nasceu em Coimbra em 1968. Estudou composição na Academia de Amadores de Música com Fernando Lopes-Graça e concluiu o Curso Superior de Composição com 20 valores na Escola Superior de Música de Lisboa, com Constança Capdeville e Christopher Bochmann. Ganhou diversos prémios de composição, nacionais e internacionais, e as suas obras têm sido encomendadas e tocadas em vários países pelos mais prestigiados intérpretes. Publicou em 1999 o livro A invenção dos Sons (Caminho), em 2007 Olga Prats – Um Piano Singular (Bizâncio) e colabora com The New Grove Dictionary of Music and Musicians
É professor na Escola Superior de Música de Lisboa e colaborador da RDP – Antena 2, desde 1993. Está actualmente a realizar o Doutoramento no Instituto de Estudos da Criança, Universidade do Minho, sob a direcção de Elisa Lessa e Christopher Bochmann, sendo ainda o responsável pela edição das obras de Fernando Lopes-Graça, iniciativa do Museu da Música Portuguesa (Cascais).



Mercedes Fernandes - Como  surgiu a ideia de uma composição inspirada na História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Luís Sepúlveda?

Sérgio Azevedo - A ideia não surgiu de mim, foi uma encomenda da Dra. Carla Barbosa para a AMVC, ou seja, os compositores compõem porque querem ou, então, é-lhes encomendada uma obra. Neste caso, a Dra. Carla sugeriu a literatura latino-americana. Dirigi-me a uma livraria e, de repente, olhei para um livro e lá estava a História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar. Mal olhei para o livro pensei que aquela história seria ideal. Porém, quando voltei a lê-lo deparei-me com o facto de ter 122 páginas e pôr em música 122 páginas não era possível. Depois, falei com a Dra. Carla e disse-lhe que já tinha um livro, que inclusivamente fazia parte do Plano Nacional de Leitura, portanto, à partida, todas as crianças o leriam.




M. F. - Qual é a relação existente entre as personagens e a Orquestra?

S. A. - Eu procurei uma abordagem livre dos instrumentos. É claro que há instrumentos ou tipos de música dedicados em especial a uma personagem, como a tarantela para o gato italiano ou o jazz para a bela gata Bubulina.

M. F. - Em que elementos se inspirou para compor esta fábula musical?

S. A. - Quando há uma imagem, o compositor sempre se pode inspirar nela, mas pode cair no erro de ter uma música demasiado representativa, como por exemplo um descer de escadas será um xilofone, uma queda, uns pratos etc.
 Eu não procurei esse tipo de música, creio que quando alguém se inspira numa fábula, deve “brincar” com os cânones, embora na minha obra haja momentos representativos, como o som de gaivotas quando se representa o porto de Hamburgo e a marcha fúnebre na morte da mãe da gaivota.

M. F. - Por que motivo recorreu a instrumentos e objectos pouco convencionais?

 S. A. - Na realidade eu vejo os objectos, brinquedos por exemplo, como verdadeiros instrumentos. Uma lata vulgar pode muito bem substituir uma caixa de rufo, os balões são simples e baratos e imitam muito bem o som de um chicote. Eu utilizo muitas vezes balões nos meus concertos, pois são objectos originais e cativam a atenção do público.

M. F. - Como foi feita a transcrição das ideias da obra literária para o contexto musical?

S. A. - Em cenas de humor eu criei ritmos mais irregulares, em cenas dramáticas, como a morte da gaivota mãe, criei uma canção fúnebre. Em princípio, é assim que se transcreve.


M. F. - Nesta obra o compositor recorre a uns excertos de Pedro e o Lobo, de Prokofiev, algum motivo em especial?

S. A. - Em linguagem musical, esta “piscadela” de olhos a Prokofiev chama-se “citação”. Também utilizo um arpejo a subir e a descer, mas nesta obra o gato é um clarinete baixo, sendo mais grave do que o clarinete em Si b, o que insinua que se trata de um gato pesado.

M. F. - Quanto tempo demorou a compor a partitura?

S. A. - A ideia inicial demorou 15 dias, mas os retoques finais levaram cerca de 6 meses.

M. F. - É a primeira vez que escreve um conto musical?

S. A. - É, já escrevi diversas peças, mas nunca um conto musical .


 M. F. - E gostou de escrevê-lo?

S. A. - A experiência foi óptima, na realidade eu já tinha a ideia de escrever um conto musical, mas ainda não tinha surgido oportunidade.

M. F. - Tem algo mais a acrescentar?

S. A. - Gostaria de agradecer à Dra. Carla e à AMVC por esta bela oportunidade.


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