quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Visita ao Museu Interativo Fábrica do Chocolate, 2014/2015

"There is nothing better than a friend, unless it is a friend with chocolate."
Charles Dickens (1812-1870), escritor britânico


A 16 de dezembro de 2014, no âmbito do projeto ContactAR-TE, Artes em Diálogo, o segundo ano do Curso Básico de Instrumento visitou o Museu Interativo Fábrica do Chocolate, em Viana do Castelo. A mesma visita foi realizada a 20 de janeiro pelo terceiro ano do Curso Básico de Instrumento. O tema da visita era “As origens do cacau e a sua viagem para a Europa”, mas muito mais se aprendeu sobre este alimento.

Há cerca de 4000 anos, já existiam cacaueiros na América Central. O interesse dos humanos pelas suas sementes surgiu quando estes observaram os macacos e esquilos a sugar a polpa viscosa e esbranquiçada das suas favas.

Os Maias foram os primeiros a plantar o cacaueiro, há mais de 3000 anos, e a prestar-lhe a devida importância, ou seja, começaram por mascar as sementes de cacau e utilizavam-nas, também, como moeda de troca de bens de consumo corrente.

A civilização Asteca, que habitou o mesmo território, continuou a tradição Maia e batizou o fruto de Cacahuatl, que significa ”cacau”, em Nauatle, a sua língua oficial. Foram os Astecas que começaram, também, a utilizar o chocolate como bebida. 

Para prepararem esta bebida amarga, picante, espumosa e energética, os Astecas torravam e moíam as sementes do cacau e misturavam-lhe água. De seguida, adicionavam-lhe algumas especiarias como malagueta, canela, pimenta ou baunilha e, por vezes, para a espessarem, juntavam-lhe farinha de milho. Chamavam-lhe “xocolatl” (do Nauatle xoco, que significa amargo, e atl, que significa água).

Os Astecas ofereciam-na aos soberanos, que a bebiam em momentos festivos e alguns rituais, e aos soldados, porque lhes dava energia.

Na região onde, atualmente, se situa o México, local que, em tempos, foi habitado pelo povo Maia e posteriormente pelo povo Asteca, ainda se mantém a tradição de beber chocolate com água, enquanto na Europa se prepara a bebida com leite.

A partir de registos feitos, em 1530, por Gonzalo Fernández (historiador e escritor espanhol), os Astecas colocavam a imagem do deus Quetzalcoatl no cimo de um poste. Este deus era venerado pelos Aztecas por ser considerado o jardineiro do paraíso e guardião da planta que enviou para a Terra: o cacaueiro. Além disso, fixavam, ainda, uma armação giratória a que estavam presas com cordas “crianças-pássaro”. A um dado sinal, esta armação precipitava-se no vazio, rodopiando no ar antes de atingir o solo, por entre o júbilo popular. Em redor do mastro, sessenta homens com a cabeça enfeitada de plumas multicores dançavam nus, com corpos pintados, ou disfarçados de mulheres. Eram acompanhados por músicos e por uma dezena de cantores.

Em 1576, Garcia de Palácios, explorador espanhol, envia ao rei de Espanha uma descrição dos aspetos culturais e geográficos da civilização Asteca, incluindo a descrição de alguns rituais relativos ao chocolate.

Hoje em dia, em alguns países da América Latina, a população ainda utiliza as favas de cacau como presente de noivado ou como oferenda aos mortos.

No Equador, a secagem das sementes ainda dá lugar à dança do cacau, ou seja, os índios percorrem a área onde as sementes se encontram a secar, cantando e revolvendo as favas avermelhadas ao sol.

Quando a expedição europeia, comandada por Cristóvão Colombo em 1502, ancorou na América Central, os Astecas, para provar que os exploradores eram bem-vindos, ofereceram-lhes sementes de cacau. Todavia, estes não viram nelas muita utilidade, a não ser a de moeda de troca com os indígenas. Segundo o historiador americano Hubert Howe Bancroft, “quatro favas compravam alguns vegetais, dez favas compravam uma mulher e um escravo custava 100”.

Só em 1519, quando Hernán Cortés (um conquistador e explorador espanhol) chegou ao atual México, o cacau passou a ser oficialmente conhecido. A civilização Asteca acreditava que Cortés era uma encarnação do já referido deus Quetzalcoatl, pois a chegada de Cortés coincidiu com o ce-acatl, o ano em que o deus prometeu voltar. Os Astecas acreditavam que ele viria “por onde o sol sai”, ou seja, por leste, precisamente por onde desembarcou o navegador.

No início, a expedição não prestou muita atenção à bebida amarga e de textura espessa. Porém, devido ao esgotamento das reservas de vinho, acabaram por se habituar e a bebida, adoçada com o açúcar de cana, começou a fazer parte do quotidiano.

Os missionários que acompanhavam os conquistadores bebiam-na durante o jejum (abstinência total da comida e bebida, exceto a água), porque tinha um poder reconstituinte. Em 1569, o papa Pio V, decidiu que o chocolate com água podia ser consumido sem que quebrasse o jejum, mas alguns religiosos consideravam que esta bebida continha poderes afrodisíacos. Após o falecimento do Papa, o problema voltou a surgir, agitando os meios religiosos, que trocaram comentários afrontosos, durante mais de um século.

Só em 1664, o Cardeal Francesco Maria Brancaccio afirmou que as bebidas não quebravam o jejum, nem o chocolate, não obstante o seu poder energético.

É comummente aceite que Cortés foi o primeiro a trazer o chocolate para o continente europeu servindo-o à corte Espanhola em Madrid misturado com especiarias e pimenta.
Em 1606, o florentino Antonio Carletti levou o chocolate para Itália, e aí surpreendeu os médicos italianos com o seu poder fortificante.

Em 1615 a bebida “xocolatl” é introduzida em França no casamento entre Luís XIII de França e Ana de Áustria, filha de Filipe III de Espanha. Em 1659, David Chaillou abriu a primeira loja de chocolate em Paris, tornando-se o “premier Chocolatier français“ e “Chocolatier du Roi“.

Em 1655, os ingleses conquistaram a Jamaica aos espanhóis (país situado na América Central, onde existiam plantações de cacau) e começam a importar o cacau para a Grã-Bretanha, primeiro como poção terapêutica e, depois, como bebida.

Em 1697, abriram os primeiros espaços de convívio dedicados à bebida de cacau, em Londres, denominados “Chocolate Houses”, que, na altura, competiam com as “Coffee Houses” (em 1675 existiam mais de 3000 “Coffee Houses” na Inglaterra e em 1700 as “Chocolate Houses” já existiam em número semelhante). No entanto, apenas a elite da sociedade Inglesa frequentava essas casas, devido ao elevado preço dos produtos.

A corte portuguesa começou a consumir chocolate a partir da segunda metade do século XVIII. D. João V e o Marquês de Pombal eram grandes apreciadores de chocolate.

Apesar de atualmente a Suíça ser um dos mais conceituados países produtores de chocolate do Mundo, só em 1750, através de comerciantes italianos, é que este país conheceu o produto.

No início do século XIX, a invenção da prensa de cacau hidráulica pelo holandês C. J. Van Houten contribuiu para um aumento do consumo do chocolate, uma vez que este passou a ser produzido a mais baixo custo e em grande quantidade. Em 1847, Josepf Fry, a viver em Inglaterra, criou a primeira barra de chocolate.

Com a mão-de-obra escrava, os preços do cacau e do açúcar também baixaram. Juntamente com a descida do preço do fabrico de chocolate e o aumento do nível de vida da população europeia, o chocolate passou a ser popularizado.

No início do século XX, o chocolate deixa de ser um alimento apenas fornecido à aristocracia, a governantes e a soldados, e passa a pertencer ao quotidiano de toda a população e, consequentemente, a expandir-se pelo Mundo.

Entre os maiores empresários chocolateiros da Revolução Industrial na Inglaterra está John Cadbury, fundador da Cadbury Limited. 

Na Europa, e contribuindo para o seu sucesso, o chocolate passa a estar associado às duas maiores festas do cristianismo - o Natal e a Páscoa.

Em 1830, começaram-se a produzir figuras de chocolate com a ajuda de moldes. Encontram-se variadas figuras, na época da Páscoa, muitas delas relacionadas com temas religiosos (cordeiro pascal, sino, ovo, peixe) ou profanos (coelho, galinha, etc.).

A fábrica de chocolates Avianense começou a produzir em 1914, em Viana do Castelo, e era gerida pela Sociedade Lima & Limas. Esta era a mais antiga fábrica de chocolate do país.

A fábrica começou por produzir tabletes, ovos da Páscoa, fantasias de chocolate (normalmente com motivos natalícios), cacau em pó, napolitanas e bombons de vários tipos, como “ o Imperador”, o mais conceituado, que era feito com amêndoa torrada nacional e chocolate de leite. A fábrica dedicava-se também à torrefação de cevada.

Texto baseado no trabalho de Ana Margarida Lima Alves, de Abril de 2011











                                                



























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