A Escola Profissional de Música de Viana do Castelo associou-se à celebração da X edição da Semana da Leitura, uma iniciativa baseada num projeto do Plano Nacional de Leitura, do Ministério da Educação e Ciência.
Os poemas escolhidos para serem declamados durante as duas últimas aulas da tarde do dia 15 de março de 2016, procuraram criar momentos de reflexão e ilustrar a diferença, o pluralismo e a multiculturalidade.
“Flagelados do Vento-Leste”, de Ovídio Martins (Cabo Verde) - interpretado por Iuri Maciel
"Nós somos os flagelados do Vento-Leste!
A nosso favor
não houve campanhas de solidariedade
não se abriram os lares para nos abrigar
e não houve braços estendidos fraternamente para nós
Somos os flagelados do Vento-Leste!
O mar transmitiu-nos a sua perseverança
Aprendemos com o vento o bailar na desgraça
As cabras ensinaram-nos a comer pedras para não perecermos
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem a caminhada
Teimosamente continuamos de pé
num desafio aos deuses e aos homens
E as estiagens já não nos metem medo
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!...)
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre escutado
São apenas
as vozes do mar
que nos salgou o sangue
as vozes do vento
que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das nossas montanhas
estranha e silenciosamente musicais
Nós somos os flagelados do Vento-Leste!"
“Poema Para Todos”, de Agostinho Neto (Angola) - interpretado por Bárbara Leite
Para quê chorar
porque esperamos
que outros venham consolar?
Para quê querer uma ilusão
para apagar uma mentira?
o choro cansou o mundo
e a nós mesmo já causa tédio
e quando julgamos que o riso é choro
ele é riso simplesmente
porque já nem sabemos lamentar
Mas olha a tua volta
abre bem os olhos
-vês?
Aí está o mundo
construamos.
"Filho de ..." Jacques Brel (Bélgica), tradução livre de Carlos Sampaio - interpretado por Diana Esteves
Filhos de César ou filhos de nada
Todas as crianças são como a tua
Filho de burguês ou filho de apóstolo
Todas as crianças são como as vossas
O mesmo sorriso, as mesmas lágrimas
Os mesmos sustos, os mesmos suspiros
Filho de burguês ou filho de apóstolo
Todas as crianças são como a tua
Mas filho de sultão ou filho de faquir
Todas as crianças têm um império
Em berço de ouro, ou debaixo de colmo
Todas as crianças têm um reino
Um canto de onda, uma flor que treme
Um pássaro morto que se lhes assemelha
Filho de sultão, filho de faquir
Todas as crianças têm um império
Mas filho do teu filho ou filho de estrangeiro
Em cada criança há um feiticeiro
Filhos de amor ou filhos de paixoneta
Em cada criança há um poeta
Eles são pastores, eles são reis magos
Eles têm nuvens para melhor voar
Filho do teu filho ou filho de estrangeiro
Em cada criança há um feiticeiro
Somente depois, muito tempo depois ....